Todos os escritores (as) famosos e bem-sucedidos, da literatura universal de séculos atrás, passaram pela escrita criativa. Todos, todas. Esses, leram, aprenderam, copiaram e imitaram para aprimorar suas obras em algum momento até chegar à excelência da escrita. A diferença é que nessa época não existia um curso propriamente dito ou um monitor que lhes dissesse faça isso ou aquilo para escrever melhor. Portanto, a escrita criativa nada mais é do que um processo de aprendizado contínuo para dominar a arte da escrita. A criatividade, assim como a leitura, a prática, a observação e o trabalho em si de escrever, é mais uma ferramenta que dá a habilidade essencial para a criação de um bom texto ou para escrever uma obra prima. Não existe fórmula e nem mágica para escrever bem.

          A escrita criativa começou a ser difundida no Brasil antes do novo milênio. Desde o início ela foi relacionada aos interesses de pessoas voltadas as letras, a literatura de uma forma geral. Só que não. Aspirantes a escritores, dublês de romancistas e candidatos a best sellers sempre estiveram no topo dos interessados. Porém, descobriu-se a cada oficina de escrita criativa que se espalhava pelo Brasil, dentro das universidades e fora delas, que médicos, advogados, engenheiros, músicos e chefs se misturavam aos literatas. Hoje em dia, na era das redes sociais e influencers, todo tipo de pessoa e profissional busca se aperfeiçoar na escrita, o que é excelente. A importância de escrever bem e cada vez melhor, de forma criativa é o que faz a diferença desde enviar um simples Email até a criação de um livro.

          Aprende-se a arte desse ofício com a prática, independente se a pessoa pretende ser escritora ou apenas trabalhar no jornalismo, criar um site, ser blogueira, copywritter, fazer assessoria ou apenas incrementar a produção de conteúdo para o marketing digital.

          Mas o que é a escrita criativa? De forma resumida e simplificada, já que não existe uma definição exata, é toda produção de texto de forma criativa sem ser acadêmico ou técnico e nem copiada. Ou seja, produzir um texto diferente, atraente a leitura do início ao fim, que tenha impacto e instigue a imaginação de quem o lê.

         Escrever é um ato solitário, doloroso e muitas vezes longo, dependendo do que se pretende produzir. Um livro por exemplo pode levar 10 anos, outros alguns meses. Gustave Flaubert levou cinco anos para produzir um dos mais fantásticos romances (até hoje): Madame Bovary. Ele, literalmente brigou com as palavras ao buscar o texto ideal e conseguiu maravilhar a todos e todas através de uma história banal. Cada palavra, cada frase, cada gesto das personagens estão no lugar certo, na quantidade certa e no tempo exato. Um romance que mexe com muitos dos nossos sentidos. Ernest Hemingway dizia que somos aprendizes de uma arte que ninguém consegue dominar.

         Para quem quer escrever bem, se aperfeiçoar na arte da escrita, existem muitos cursos e oficinas de escrita criativa pelo país, além de dezenas de livros. E vou indicar alguns livros no final deste post. Também quero chamar atenção de quem pretende enveredar nesse segmento de que a jornada é longa e constante. Por outro lado, eu quero compartilhar com você, nos próximos posts, a minha experiência, hoje com 61 anos, de cinco livros publicados e mais de trinta cursos feitos no Brasil e exterior (online) sobre escrita criativa: romance, crônica, contos, artigos, copywritter, jornalismo, roteiro de cinema, relatos de viagens até textos comerciais.

         Vale lembrar que a escrita vai além da performance textual. Ela ajuda no autoconhecimento. A escrita liberta. Te dá uma nova e ampla visão de mundo. Te ajuda na análise crítica trazendo mais conscientização. A escrita trás foco, concentração. Ela melhora o hábito da leitura. Ajuda na articulação do raciocínio para apresentação de trabalhos. Ajuda na capacidade crítica e analítica entre muitos benefícios. Porém, exige disciplina e esforço constante. Não é uma corrida de 100 metros, é como se preparar para correr uma maratona.

         Para iniciar a jornada da escrita listo aqui algumas práticas necessárias para penetrar no mundo da literatura ou simplesmente das narrativas para as redes sociais e do marketing de conteúdo:

1. Ler

Sim, é o velho chavão, mas ainda existe muita gente que quer escrever, mas não gosta nenhum pouco da leitura. Sou jornalista e durante muito tempo ouvi estagiários e formados, que diziam não gostar de ler. Eles nem mesmo liam os próprios textos. Portanto, não existe ninguém que conseguiu dominar a escrita sem antes se tornar um bom leitor (a). Leia todos os dias e de tudo. Não se apegue apenas ao gosto pessoal. Para ampliar vocabulário, se familiarizar com verbos, frases, sem se preocupar com a gramática (por hora), tente ler de tudo um pouco. Desde uma revista fora do seu segmento até um grande romance de sua preferência, mas leia com prazer, anotando o que mais lhe chame a atenção.

2. Caderno e caneta na mão.

Outra coisa básica, porém, muito útil para o processo da escrita. Tenha sempre em mãos um caderno ou uma agenda, bloco de notas, algo para escrever e a caneta ou lápis conforme a sua preferência. Esqueça a tela do computador. Ali, anote tudo, desde um simples pensamento, vago ou não, uma ideia, uma frase, uma recordação, resuma algo que acabou de ler, ou um filme que assistiu, uma série e comece a anotar o que achar interessante, seja numa fala, numa cena ou numa paisagem. E quando surgir um tema para um artigo, um texto, uma crônica ou mesmo para um livro, deixe as ideias fluírem, anote tudo. A vantagem de anotar é garantir uma memória e isso ajuda a pensar de outra forma, sem o ritmo alucinado do computador que tira a nossa concentração. Escrever à mão dá outra dimensão.

3. Observar

Essa é uma das tarefas mais difíceis, pois geralmente estamos concentrados em algo ou no piloto automático que deixamos de observar as pessoas, suas falas, seus gestos, as coisas, a natureza, as cores, o vento, a chuva e por aí vai. Se você quer escrever observe mais, seja na família ou amigos e lembre-se de anotar em seu caderno. Na cidade, no trânsito, nos restaurantes, nos shoppings, na fila do cinema ou teatro. Comece a exercitar a observação e treine cada vez mais para criar seu repertório de cenas, objetos e coisas interessantes para depois escrever com propriedade e verossimilhança. 

4. Escrever

Para iniciar na escrita criativa é preciso começar a escrever e em qualquer lugar. Comece hoje mesmo a escrever qualquer coisa que lhe vier à mente. Não precisa ser um texto pronto para ser publicado. Exercite a escrita e inicie pequeno, com uma página ou mesmo dois parágrafos. Mas comece. Não tente pensar que precisa de um computador de última geração. Se não tiver nenhum, vai à mão mesmo. Não existe lugar perfeito e glamouroso, uma biblioteca espetacular, uma sala com vista para o mar ou as montanhas. Encontre o seu melhor espaço, eleja-o, faça-o confortável e dedique-se nesse canto sagrado que será o seu reduto para a produção da escrita. Em um dos cursos que eu fiz, Dan Brown disse que escrevia todos os dias, porém em uma viagem para visitar familiares em Miami, na casa de uma irmã, se viu obrigado a sentar no chão da lavanderia da casa para continuar o seu livro Anjos e Demônios. Portanto não tem desculpa e nem descanso, só se exige disciplina. Então, defina de início o quanto você vai escrever: se 100 palavras, 500 ou 1.000, se uma página ou dez, se por meia hora ou três. Mas determine um ritmo adequado para tomar gosto e não desistir logo de início.

5. Copiar

Não tenha medo ou vergonha de tentar copiar um autor (a) favorito, seja nos livros, no cinema, no teatro, na filosofia, sociologia, psicologia, blogueiro, palestrante e qualquer que seja a pessoa que você adora ler. Pegue um parágrafo e tente reescrever de forma diferente, na mesma estética. Use algumas palavras para falar outra coisa, reproduza outra cena e troque palavras. Exercite isso, porque esse é um dos caminhos para um dia chegar ao seu estilo, a sua voz. Você não vai criar nada autêntico logo de início. Somente com a prática é que se chega ao estilo próprio.

6. Inspirar

          A maior inspiração é o prazo para entrega de um material, porém, se você vai começar a escrita criativa, obedecendo a disciplina, não pode esperar que a inspiração caia do céu. O medo da página em branco é fantasia. Você pode planejar quando for produzir algo para mostrar em suas redes ou apenas para uma pessoa e mesmo para seu conhecimento ou autocrítica. A inspiração está em todos os lugares. Olhe 360 graus. Se não tem nada para exercitar, escrever, não vem nenhuma ideia, pegue as fotos antigas. Em nossos álbuns de família, fotos desde criança, quantas histórias temos para contar. Escolha uma e vai anotando tudo que lhe vier a lembrança: o ano, qual a contextualização da época, o que estava fazendo, do que gostava, algum trauma, alguma experiência frustrante ou até cômica. Descreva a roupa, algum detalhe, os sentimentos que lhe vierem, as emoções e aos poucos você encontra uma fonte inesgotável de temas. Pegue um objeto de uma viagem, um souvenir, e descreva-o, depois fale de onde veio, o que você fazia ali, tente descrever sobre alguns dos sentidos; o olhar, o tato, o cheiro e/ou se tiver sabor. Pegue um pedaço de uma música e tente escrever uma história com ela e assim vai, com pequenas coisas você amplia sua capacidade de encontrar temas, assuntos e inspiração para produzir. Se não encontrar nada, reescreva o trecho de um livro qualquer sobre outro ponto de vista. Na inspiração entra a criatividade. Pratique coisas diferentes, olhe sob diferentes perspectivas e se interesse por diferentes coisas.

          Essa é uma pequena introdução sobre a escrita criativa. Nos próximos posts vou abordar assuntos específicos e voltar em alguns tópicos com mais informações e exercícios. Muito em breve iniciarei um Canal no Youtube depois de produzir, aqui, uma meia dúzia de textos. Abaixo, deixo uma lista com alguns livros sobre a escrita criativa. Não tem preferência. São os que tenho em minha estante. Também deixarei, nos próximos posts, dicas de ferramentas digitais e alguns cursos interessantes que valem à pena.

Livros sobre escrita

Cartas a um jovem escritor – Mario Vargas Llosa

Oficina de escritores – Stephen Koch

A arte de escrever em 20 lições – Antoine Albalat

A jornada do escritor – Christopher Vogler

A escrita criativa – Rubens Marchioni

Escrever ficção – Luiz Antônio de Assis Brasil

Confissões de um jovem romancista – Umberto Eco

Para ler como um escritor – Francine Prose

Sobre a escrita, a arte em memórias - Stephen King

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